No meu tempo, dois reais poderiam significar
dinheiro demais ou dinheiro de menos. Para um milkshake, dinheiro de
menos. Para um sorvete, dinheiro demais. Eu tinha acabado de sair do
colégio a pé, sob o sol da tarde, a farda quente me matando e a sede me
consumindo a garganta. Sem drama, nem pressão. O sorvete ficava na
esquina da pracinha em que eu deveria esperar minha carona. Lugar
lotado, duas atendentes, caos total. Uma
delas, atordoada, não demorou em me preparar um Big Sundae com calda de
morango, com o qual eu voltei, feliz da vida, ao banquinho da praça.
Como todo gelado, acabou incrivelmente rápido, me levando a viver
minutos de tédio enquanto meu pai não aparecia.
Comecei a pensar na vida, nas coisas, nas pessoas, na minha situação. Indo para o segundo ano, pobre, casa em construção. Dinheiro em falta. Dinheiro... se eu tivesse mais disso aqui eu ia correndo comprar uma água ou outro sorvete... sorvete... SORVETE! No meio da balbúrdia eu me havia esquecido de pagar o meu pequeno sorvete de creme. Num segundo, eu vi uma garota de farda correndo para a sorveteria da esquina, gritando desculpas, pelo amor de Deus. E entregando os únicos dois reais que tinha no bolso à atendente assustada com o grito ou com a honestidade. Honestamente, não sei. Mas sorri ao pensar que havia feito o certo. E o certo nem sempre traz lucro. Agora, por exemplo, eu não tinha mais dinheiro para outro sorvete. E no fim da história, eu descobriria que meu pai levaria ainda duas horas para chegar.Crise de abstinência
~modeON!
Clo Pês
Comecei a pensar na vida, nas coisas, nas pessoas, na minha situação. Indo para o segundo ano, pobre, casa em construção. Dinheiro em falta. Dinheiro... se eu tivesse mais disso aqui eu ia correndo comprar uma água ou outro sorvete... sorvete... SORVETE! No meio da balbúrdia eu me havia esquecido de pagar o meu pequeno sorvete de creme. Num segundo, eu vi uma garota de farda correndo para a sorveteria da esquina, gritando desculpas, pelo amor de Deus. E entregando os únicos dois reais que tinha no bolso à atendente assustada com o grito ou com a honestidade. Honestamente, não sei. Mas sorri ao pensar que havia feito o certo. E o certo nem sempre traz lucro. Agora, por exemplo, eu não tinha mais dinheiro para outro sorvete. E no fim da história, eu descobriria que meu pai levaria ainda duas horas para chegar.
Clo Pês
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